Setenta anos se passaram desde a fundação da Federação das Cooperativas de Lã (Fecolã) do Rio Grande do Sul e os produto-res de lã ovina, um produto nobre e de qualidade superior, ainda lutam pelo seu espaço no mercado e valorização do seu produto. Esta é uma das bandeiras do presidente da Federação, Leocádio Ledesma, que recorda os tempos áureos da fibra, com mercado franco comprador e valorização de preço. Na época da fundação, eram 23 as cooperativas associadas à federação e hoje restam apenas três em funcionamento, localizadas em Jaguarão, Quaraí e São Gabriel, as Cooperativas de Lã Mauá, Quaraí e Tejupá, respectivamente, que juntas reúnem pouco mais de 500 associados.
Produtor em Jaguarão, cidade sede da remanescente Cooperativa Mauá, ele lamenta o momento da lã, que é muito grave, com a saída das cooperativas do mercado e a produção parada nos gal-pões. “O cooperativismo é o caminho certo para os produtores de qualquer produto agrícola, mas quem tem que acreditar na coope-rativa é o produtor”, ressalta, na esperança de reverter este quadro.
Segundo ele, a ovinocultura ainda é um bom negócio, que garante renda à propriedade e precisa ser recuperada como um todo. O rebanho gaúcho, que chegou a 10 milhões de cabeças, hoje tem pouco mais de dois milhões de ovinos, e de maior criador brasileiro passou para o quarto ou quinto no país. O número de produtores também caiu e está em 2,5 mil criadores, calcula. “De 80% a 85% das raças são laneiras e a produção anual deve estar por volta de 4 a 5 milhões de quilos”, ressalta.
As mais valorizadas são as lãs finas. “Já vendemos lã corriedadale a R$ 14 o quilo e hoje estão pagando entre R$ 3 e R$ 4,40”, afirma. Segundo ele, um preço justo e ainda remunerador ao produtor seria em torno de R$ 12. Os poucos compradores são as famosas barracas (atravessadores) que compram e enviam a lã para o Uruguai, diz. “A qualidade da nossa lã é excelente, pois possuímos rebanhos muito bons, mas o que ainda não fazemos é colher a lã com carinho”, diz o presidente, salientando que a lã precisa ser comercializada classificada e acondicionada limpa, o que muitos ainda não fazem.
Entre os principais compradores estão a Europa, que é bastante seletiva, e a China, que adquire produto mais inferior e deixou de comprar durante a pandemia, o que impactou o mercado. No estado, a lã é bastante utilizada por artesãos para a confecção de peças, um trabalho considerado por Ledesma excepcional, pois alguns realizam vendas exclusivamente para o exterior. O Rio Grande do Sul possui duas indústrias, localizadas na região da Serra, diz.
Para manter unidos e engajados os produtores ligados a essas cooperativas remanescentes, Ledesma quer reunir em Esteio, representantes dos produtores e indústria. A intenção, segundo ele, é reunir a indústria, classe política, cooperativas e produtores e manifestar a preocupação com esta importante cadeia produtiva. “As ideias são muitas, inclusive há um estudo da Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, para o uso da lã em revestimentos, por ser resistente ao fogo”, aponta. Estas reuniões devem ocorrer entre os dias 29 e 31 de agosto, na sede da Fecolã, localizada junto ao Pavilhão de Ovinos, no parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Os encontros irão marcar a comemoração dos 70 anos de fundação da Federação e das cooperativas. A Federação das Cooperativas de Lã do Brasil Ltda foi constituída em 12 de fevereiro de 1952, tendo por local a sede social, à Rua dos Andradas, nº 1137, 9º Andar, Conj. 902/918, em Porto Alegre.
A Federação, com base em ação conjunta de suas filiadas, tem o objetivo de estimular as atividades cooperativistas no Rio Grande do Sul, produção, industrialização e comercialização da lã. Atua junto aos poderes públicos e instituições privadas para as soluções dos problemas da lã e da ovinocultura, representado e defendendo os interesses de suas filiadas, com a finalidade de apoiar e desenvolver ações e atividades que resultem na manutenção, no desenvolvimento e, na integração social de seus associados.
Luciara Schneid
Jornal Tradição
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