Foto: Alina Souza.

Mercado da lã é difícil, mas produtor não desiste

Cabanha que cria animais de raça Merino Australiano, com velo valorizado, reconhece que o comércio do produto gaúcho não é como no passado, mas ainda vale a pena como atividade que se sustenta na propriedade
Lã perdeu espaço para as fibras sintéticas e o algodão, mas ainda é o produto têxtil mais nobre e sustentável que a indústria pode ter para fabricação de tecidos. No entanto, hoje representa apenas 1,1% da matéria-prima utilizada pelo setor | Foto: Alina Souza

Com mais de 80 anos de tradição na criação de ovinos da raça, o proprietário Manoel Rodrigues é a terceira geração da Cabanha Santa Camila, em Alegrete. Há 12 anos à frente da administração dos negócios, Rodrigues cria a raça Merino Australiano, que oferece lã fina, de mais qualidade, totalizando 500 ventres e 100 reprodutores na propriedade. Mesmo com as atuais dificuldades enfrentadas pelo setor laneiro, que hoje representa 1,1% do mercado mundial de fibras, o criador nunca pensou em desistir da produção. “Sempre acreditamos que esse investimento traria retorno”, afirma, acrescentando que nos últimos três anos houve aumento da procura do produto. “Tem mais qualidade e é ecologicamente sustentável”, explicou.

Os animais passam pela esquila uma vez por ano. Na Expointer, ele relatou que um macho de 2 anos e que pesa 160 quilos passará pela segunda esquila em novembro. “Na primeira, rendeu 17 quilos de lã”, comemorou. Os 8 mil quilos anuais produzidos pela propriedade de Rodrigues são enviados para o Uruguai. “Eles pagam o frete”, ressaltou, salientando que é menos um custo.

O quilo da lã é vendido por R$ 40,00, o que significa ganhos de R$ 320 mil por esquila anual. Apesar disso, o maior lucro da criação advém da venda de material genético, e não da venda de lã em si. A criação de Braford é outra atividade econômica desenvolvida pela cabanha. Apesar dos outros negócios, o criador disse que nunca precisou buscar reforço financeiro nos bovinos. “A atividade sempre se sustentou”, garantiu. Em 2021, ele conta que vendeu 3 mil quilos de lã para uma malharia no RS, motivo para comemoração depois de tempos difíceis. “Importante negociar com o mercado interno”, realçou.

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A Estância São Francisco, de Bagé, tem tradição na criação. O proprietário Manuel Sarmento é a sexta geração da família e cria Romney Marsh naturalmente Colorido entre as atividades econômicas desenvolvidas. “O animal tem dupla aptidão, 60% para carnes e 40% para lã,ou seja é uma raça para carne que produz lã”, afirmou. No entanto, a sua produção laneira não vai para o Uruguai e é absorvida pelo mercado interno. “Vendo para a confecção de artesanatos”, disse.

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Segundo o presidente da Federação das Cooperativas de Lã do Brasil (Fecolã), Leocádio Bardallo Ledesma, a queda brusca é resultado do avanço do material sintético e do algodão, matérias primas de menor valor. “Antes a produção anual gaúcha era de 10 mil toneladas e hoje caiu para 4 mil toneladas”, afirmou, uma queda de 60%. Por essa razão, a Fecolã, formada pelas cooperativas Lãs Mauá, de Jaguarão, Lãs de Quaraí, em Quaraí, e Lãs Tejupá, de São Gabriel, comemorou os 70 anos da entidade da 45º Expointer com o objetivo de impulsionar a comercialização de lã.

O economista e presidente da Cooperativa Mauá, em Jaguarão, Edson Ferreira, explicou que esse cenário de declínio no mercado laneiro está relacionada às crises econômicas em épocas diferentes no Brasil, o que desencadeou redução do poder de compra das pessoas. Isto, diz ele, complica o consumo de produtos à base de lã, que é mais cara por ser matéria-prima natural. “Dos 215 milhões de brasileiros, apenas 58 milhões podem comprar”, projetou Ferreira.

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O dirigente acredita que para mudar o contexto vigente é preciso conquistar o mercado interno, começando a processar a própria lã para ganhar valor agregado. “Hoje vendemos lã natural para o Uruguai, que é referência mundial no mercado, que vende 50 mil toneladas para China, Itália e Alemanha, principais consumidores, sendo que eles produzem 22 mil toneladas e complementam o volume total comprando dos demais países”, relatou. Para o Brasil reaquecer o mercado, Ferreira aponta três desafios: trabalho de marketing, revisão tributária e ampliação do uso da lã para outros fins, na cadeia produtiva.

A comerciante Tatiana Garra, de Eldorado do Sul (na foto, abaixo), participou da 45ª Expointer com a intenção de vender tapeçarias, entre elas, os cobiçados pelegos de lã de ovelha. Como os demais expositores na feira deste ano, Tatiana comemorou as vendas. “De segunda a sexta-feira vendemos em torno de dez peças por dia e no final de semana, sobe para 40”, destacou.

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